Baden-Powell

Lord Baden-Powell of Gilwell

Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (B-P) nasceu em Londres a 22 de Fevereiro de 1857. Foi o quinto dos sete filhos do Reverendo Professor Baden-Powell e Henriqueta Graça Smyth.

O filho mais velho Warington, que tinha então treze anos, entrou um ano mais tarde, para o navio escola Conway. O seu entusiasmo pelo mar era tal que, sempre que tinha férias, levava em excursões de barco os irmãos que já tivessem idade para navegar. Foi assim que o nosso B-P aprendeu a manobrar um barco, a acampar, a cozinhar e a obedecer às ordens com rapidez e elegância. Fizeram expedições por todo o país e mares vizinhos, e assim B-P aprendeu as regras da exploração e da vida ao ar livre.

Em 1869 entrou na Escola da Cartuxa, e dois anos mais tarde transferiu-se de Londres para Godalming. A escola possuía uma pequena mata, que era vedada aos alunos. B-P costumava ir para aí, observar os animais, apanhar por vezes um coelho, que assava numa fogueira sem fumo (o fumo tê-lo-ia denunciado aos mestres!) e aí desenvolvia as suas habilidades na construção de abrigos e aprendia a usar um pequeno machado.

Era muito popular na escola, mas não era um estudante de grande evidência ou um grande atleta, embora tomasse parte em muitas actividades com toda a energia que tinha, e esta era considerável. Tinha habilidade para desenhar, para cantar canções cómicas e para representar, e em toda a sua vida usou em cheio todos estes talentos.

Em 1876 fez exame de aptidão à Escola do Exército e fê-lo tão bem que imediatamente recebeu a patente de Alferes do Regimento de Hussardos n.º 13, então colocado na Índia. Muito cedo se distinguiu não só pelo zelo no cumprimento dos seus deveres, mas também nas habilidades desportivas e boa camaradagem. De tal modo que em 1883, com a idade de 26 anos, era Capitão e Ajudante do Regimento. Era perito em exploração e espionagem; tanto assim, que foi autoridade reconhecida nestes assuntos.

Como desportista notabilizou-se na montaria ao Javali – desporto arriscadíssimo mas muito apreciado pela equitação e pela perspicácia que exige no seguimento das pistas. Muitas vezes vagueava sozinho pelas regiões mais silvestres, observando os animais e aprendendo-lhes os costumes. Como passatempo, estava sempre desejoso, tanto de cantar uma canção e tomar parte num concerto ou ópera, como de pintar um cenário ou desenhar os populares.

O regimento deixou a Índia em 1884 e no regresso a viagem foi interrompida no Natal (território da África do Sul) porque se receava um conflito com os Boers. Foi durante esta primeira primeira visita àquela região que B-P entrou em contacto com os Zulus. Começou então a colher informações secretas, disfarçado de jornalista.

Em 1887 foi de novo para África como ajudante de campo de seu tio, que era Governador da Província do Cabo. B-P satisfez o seu primeiro desejo de serviço activo numa campanha contra os Zulus. Foi então que ouviu o coro “Ingoniama” cantado por uma coluna de Zulus em marcha. Os nativos deram-lhe o nome “M’hlaha Panzi”“O homem que se deita para disparar” – significado que ele tinha cuidado ao apontar ou pensava antes de agir.

Em seguida fez serviço em Malta e simultaneamente foi nomeado Oficial de Informação para o Mediterrâneo. Isto deu-lhe mais aventuras como espião e ensinou-lhe ainda mais da exploração.

Em 1893 foi escolhido para uma missão especial contra os Ashanti. O rei nativo estava a perturbar a ordem e foi enviada uma expedição para a restabelecer. Isto obrigou-o a uma marcha de cerca de 150 milhas através de densos bosques e florestas e a atravessar numerosos rios. Nesta expedição o trabalho de B-P era a exploração e o pioneirismo; assim aprendeu a maneira prática e útil de construir pontes. Foi quando estava no Oeste Africano que ouviu o ditado: “devagar devagarinho se apanha o macaquinho” que veio a ser o seu ditado preferido. Pôs um chapéu de “cow-boy” pela primeira vez na operação dos Ashanti e os nativos chamaram-lhe, por isso, “Kantankye” ou “chapéu grande”. Terminada a expedição foi promovido a Coronel e pouco depois punha-se a caminho do que ele dizia ser ” a melhor aventura da vida …” a guerra dos Matabeles.

A terra dos Matabeles é agora conhecida por Zimbabwe (antiga Rodésia). Estava então ainda pouco explorada, por aí haver poucos colonos brancos. Os nativos tinham-se sublevado e massacrado alguns colonos brancos e fugiram depois para as montanhas. Ali havia lugares difíceis de atingir, pois as suas grandes rochas ofereciam muitos e bons perigos. B-P foi encarregado da exploração. A sua tarefa não era nada fácil pois tinha de descobrir o paradeiro do inimigo e o que era mais difícil, como atingir as suas fortalezas. Perdeu muitas noites nas expedições de exploração, mas era tão bem sucedido, que quase sempre guiava os soldados ao lugar ideal para o ataque. Desenhou mapas absolutamente correctos e de grande valor. Foi durante esta campanha que ele se tornou conhecido como um grande explorador. Os Matabeles chamaram-lhe “Impisa” que quer dizer “o lobo que não dorme”. Sabia que gritavam com ódio o seu nome e o ameaçavam com toda a espécie de torturas, se lhes viesse a cair nas mãos.

Muitas das suas experiências de observação e dedução, bem como muitos dos episódios que viveu foram por ele mais tarde aproveitados na educação dos jovens Escuteiros.

A missão que em seguida lhe foi confiada foi o comando do Regimento de Dragões 5, então em serviço na Índia. Foi com pena que deixou o seu velho regimento; mas lançou-se no novo trabalho com todo o seu habitual entusiasmo e eficiência. Procurou que os seus soldados encontrassem a felicidade mesmo nas dificuldades e procurou conquistar-lhes rapidamente a confiança.

Mas a sua realização mais importante foi nos métodos de treino. Porque achava importante, procurou que a expedição se tornasse popular. Os homens eram divididos em pequenas unidades de meia dúzia – a que nós depois no Escutismo chamaríamos Patrulhas – sob o comando de um deles – o nosso Guia de Patrulha. Aqueles que melhor desempenhassem os seus deveres tinham o privilégio de usar uma insígnia especial – uma Flor de Lis – que na bússola indica o rumo do Norte.

Em 1899 B-P regressou a casa, mas logo se lançou noutro empreendimento. Trouxera consigo da Índia o manuscrito de um pequeno livro chamado “Aids to Scouting” (auxiliar do Explorador) que continha as palestras que fizera aos seus soldados, com muitos exemplos de observação e dedução. Antes que o livro fosse publicado, já ele estava de novo a caminhos da África do Sul, onde se preparava uma guerra com os Boers. A sua missão era organizar uma frente militar pronta para qualquer emergência.

Quando a guerra estalou estava ele em Mafeking com parte das suas forças. Quase ao mesmo tempo, um exército Boer de 9.000 homens pôs cerco à pequena cidade. Não é o objectivo principal deste texto descrever a história do famoso cerco; contudo é justo salientar que foi nele que o nome de B-P galgou as fronteiras de todos os países, tornando-se conhecido em todo o mundo, pois defendeu a cidade durante 217 dias das poderosas forças inimigas e foi graças à sua alegria e à sua desenvoltura (ao seu “desenrascamento”) que a cidade não foi tomada.

Para os Escuteiros “Mafeking” tem uma grande importância. Os rapazes da cidade foram organizados num corpo de mensageiros e B-P impressionou-se pela maneira como eles levavam a cabo as suas missões. Viu que, se lhes fosse confiada qualquer responsabilidade, eles se sairiam bem em qualquer ocasião.

Como reconhecimento do seu comportamento em Mafeking, B.P. foi promovido a Brigadeiro sendo o mais novo do Exército e herói do Reino Unido. Foi-lhe então confiada a importante tarefa de organizar a Polícia Montada Sul-africana (PMS). Era um corpo de homens valentes, fundado para ajudar na reconstrução da África do Sul depois da guerra; e prestaram excelentes serviços, graças ao treino que B-P lhes deu em disciplina e responsabilidade.

Bem organizada a PMS, voltou a Inglaterra para outra importante tarefa: tinha sido nomeado Inspector-Geral de Cavalaria. De novo encetou com a dedicação e perspicácia habitual para elevar o nível da Arma de Cavalaria do seu país.

Outro facto, entretanto, lhe tinha chamado a atenção: vira que o seu pequeno livro “Aids to Scounting” tinha sido adoptado como compêndio na educação da juventude. O fundador da Brigada dos Rapazes, Sir William Smith, pediu-lhe que adoptasse os métodos de exploração à formação dos jovens. B-P estudou um plano e em 1907 fez um acampamento experimental na ilha de Brownsea, com duas dezenas de rapazes de todas as classes. Este acampamento foi tão bem sucedido que resolveu escrever tudo o que tinha ensinado à volta do “Fogo de Conselho”. Assim nasceu o “Escutismo para Rapazes”.

Foi primeiro publicado em fascículos quinzenais, nos primeiros meses de 1908. Os rapazes buscavam-no por toda a parte e rapidamente formaram Patrulhas com os seus amigos. O número cresceu depressa – pelos fins de 1908 havia 60.000 Escuteiros – e B-P teve que se esforçar muito para conseguir insígnias, uniformes, cartões de alistamento, etc…

O movimento cresceu tanto que em 1910 B-P compreendeu que o Escutismo seria a obra a que dedicaria a sua vida. Teve a visão e a fé de reconhecer que podia fazer mais pelo seu país adestrando a nova geração para a boa cidadania do que preparando um punhado de homens para uma possível futura guerra. Pediu então demissão do Exército onde havia chegado a Tenente-General e ingressou na sua “segunda vida”, como costumava chamá-la, sua vida de serviço ao mundo por meio do Escutismo.

Em 1912 fez uma viagem à volta do mundo para contactar os escuteiros de muitos outros países. Foi este o primeiro passo para fazer do Escutismo uma fraternidade mundial. A Primeira Guerra Mundial interrompeu momentaneamente este trabalho, mas com o fim das hostilidades foi recomeçado, e em 1920 os escuteiros de todas as partes do mundo reuniram-se em Londres para a primeira concentração internacional de escuteiros: o 1º Jamboree Mundial. Na última noite deste Jamboree, a 6 de Agosto, B-P foi proclamado “Escuteiro-Chefe-Mundial” sob os aplausos da multidão de rapazes.

O Movimento Escutista continuou a crescer. No dia em que atingiu a “maioridade” completando 21 anos contava com mais de 2 milhões de membros em praticamente todos os países do mundo. Nesta ocasião, B-P recebeu do rei Jorge V a honra de ser elevado a Barão, sob o nome de Lord Baden-Powell of Gilwell. Mas apesar deste título, para todos os escuteiros ele continuou e continuará sempre a ser B-P, o Escuteiro-Chefe-Mundial.

B-P era uma figura magra, franzina, mas se o visses certamente que te admirarias da sua bela cabeça e dos seus olhos bastante expressivos. Era um homem sociável, e muitos Escuteiros  lembram-se ainda com saudade das conversas tidas com ele nos Jamborees. Em Giwell Park, por exemplo, passeava com os seus cães pelo acampamento, e os Escuteiros depressa viram com profunda amizade a sua presença.

Era um homem simples no seu modo de viver. Dormia numa varanda durante quase todo o ano, levantava-se muito cedo, praticava exercícios de ginástica e depois dava um passeio com os seus cães antes do almoço.

Poucos homens terão trabalhado tanto como ele. Mantinha uma assídua correspondência, mas nunca se esquecia dos velhos amigos quando procurava adquirir outros. A pesca era o seu desporto favorito. Ocupou-lhe muito tempo e deu-lhe oportunidade de admirar a natureza – um dos maiores prazeres da sua vida. Possuía um grande conhecimento da vida da natureza, sobretudo da vida dos animais, e nos últimos anos, quando já tinha poucas forças e por isso não podia ir visitar os seus Escutas, dedicava-se ao estudo dos animais selvagens e pintava quadros da vida desses animais.

Quando suas forças começaram a declinar, depois de completar 80 anos de idade, regressou à sua amada África (Quénia) com a sua esposa, Lady Baden-Powell, que fora uma entusiástica colaboradora em todos os seus esforços, e que era a Chefe-Mundial das Guias, movimento também iniciado por B-P. Fixaram residência no Quénia em um lugar tranquilo e com um panorama maravilhoso: florestas de quilómetros de extensão tendo ao fundo montanhas de picos cobertos de neve. Foi lá que veio a falecer, enquanto dormia, no dia 8 de Janeiro de 1941 faltando um pouco mais de um mês para completar 84 anos de idade.

Após a a sua morte, foi encontrada entre os documentos, uma carta intitulada “Última Mensagem do Chefe”.

Caros Escuteiros,

Se alguma vez vistes a peça “Peter Pan” recordar-vos-eis de que o Chefe Pirata estava sempre a fazer o seu discurso de despedida porque tinha receio que possivelmente quando chegasse a hora da sua morte poderia não ter tempo de a fazer. Sucede o mesmo comigo, e como tal, embora não esteja neste momento a morrer, morrerei um dia e quero deixar-vos uma palavra de despedida.

Lembrem-se, será a última vez que ouvirão as minhas palavras, como tal reflictam sobre elas.

Eu tive uma vida muito feliz e quero que cada um de vós tenha uma vida igualmente feliz.

Estou convencido que o Senhor nos colocou neste Mundo maravilhoso para sermos felizes e gozarmos a vida. A felicidade não depende das riquezas, nem do sucesso de uma carreira, nem da satisfação dos nossos instintos. Dareis um grande passo para a Felicidade se conquistardes saúde e robustez enquanto sois jovens. Quando fordes homens feitos podereis ser muito mais úteis aos outros e gozar a vida plenamente.

O estudo da Natureza mostrar-vos-á quantas coisas belas e maravilhosas Deus pôs neste Mundo para a vossa Felicidade. Contentai-vos com o que tendes e fazei-o render o máximo. Olhai sempre o lado luminoso das coisas e não o sombrio

Mas a única maneira de ser feliz é dar felicidade aos outros. Procurai deixar este Mundo um pouco melhor do que o encontrastes. Quando soar para vós a hora da vossa morte, partireis felizes, certos de não terdes perdido o vosso tempo, pois destes o vosso melhor. Estai “Sempre Alerta” desta forma, para viverdes felizes e morrereis felizes – sede sempre fieis à vossa promessa de Escutas – mesmo quando fordes adultos – que Deus vos ajude a procederdes assim.

O vosso Amigo,

Baden-Powell of Gilwell